Por: Eder Polizei
O avanço da inteligência artificial (IA) e do aprendizado de máquina está promovendo uma transformação significativa nos veículos, impulsionando o surgimento dos carros inteligentes. Equipados com sensores, câmeras, algoritmos avançados e conectividade V2X (Vehicle to Everything), esses veículos autônomos estão redefinindo não apenas a forma como nos deslocamos, mas também a noção de segurança no trânsito.
Esses carros inteligentes monitoram atentamente o ambiente ao redor, avaliam itinerários, identificam pedestres, veículos e possíveis obstáculos, tomando decisões instantâneas para evitar colisões e antecipar situações de tráfego complexas. Sua capacidade de processar informações em tempo real, com uma segurança e precisão superiores à habilidade humana, tornou-se uma característica padrão nos veículos modernos.
Além disso, os sistemas de controle de cruzeiro adaptativo usam IA para ajustar a velocidade, a distância em relação a outros veículos e até mesmo personalizar o estilo de direção, adaptando-se ao motorista.
Atualmente, mais de 80% dos acidentes envolvendo carros autônomos decorrem de erros dos condutores humanos, enquanto os restantes 20% são devidos a um uso inadequado da tecnologia. Isso aponta para uma tendência em que a condução se tornará uma responsabilidade dos processadores nos carros contemporâneos, o que está alinhado com as preferências dos motoristas. Pesquisas, como a “Autotrader: Car Buyer Journey” realizada pelo Gartner em 2022, indicam que até 84% dos motoristas estariam dispostos a utilizar seu tempo com outras atividades no lugar de dirigir.
A ascensão dos carros inteligentes tem o potencial de revolucionar a mobilidade, abrindo portas para a independência de idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Além disso, pode oferecer novos mercados, como veículos adaptados para crianças e adolescentes, permitindo aos pais uma maior tranquilidade ao oferecerem transporte seguro e controlado.
Essas mudanças também terão um impacto significativo nos setores de seguros e manutenção de veículos. A cobrança de seguros baseada na quilometragem combinada com o perfil do motorista ou a previsão da durabilidade das peças com base nas condições de direção adaptativa são apenas alguns exemplos do que pode ser alcançado com a tecnologia dos carros inteligentes.
Diante dessas perspectivas, surge a questão: será a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) necessária em um futuro próximo? E os cursos de condução? Como acontece em sistemas de metrôs automatizados, em que o maquinista não é mais responsável pela condução, é possível prever que, em breve, os carros operarão de maneira autônoma, inteligente e mais segura. Isso implica na evolução do conceito de controle, podendo substituir a CNH por algum tipo de documentação ou aplicativo nos dispositivos móveis, mas certamente não se assemelhará ao sistema atual que conhecemos.
*Eder Polizei é doutor e mestre em Administração pela FEA/USP e diretor da agência Seven7th para o setor automotivo.